quarta-feira, 24 de outubro de 2012



AUTOSUFICIÊNCIA OU ESCRAVIDÃO?




A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.
Fernando Pessoa


Tem dias em que nos sentimos como uma espécie de escravos da vida! No geral, procuramos fazer – sempre respeitando as limitações  – o que mais nos dá prazer ou aquilo que pensamos ser o certo, independente de imposições sociais, profissionais, morais, etc..  Mas acabamos nos deixando levar pelo que esperam de nós, seja através dos hábitos, seja através da razão, ou até mesmo da emoção. Afinal, passamos nossa infância e juventude sendo preparados para nos tornarmos pessoas de bem, bons pais – ou mães – de família!

Temos horário para acordar, depois o tempo certo para nos prepararmos para o dia que se inicia, saindo de casa naquela mesma hora, seguindo aquele mesmo caminho, vestindo o mesmo estilo de roupas, comendo o mesmo tipo de comida e falando, quase sempre, com as mesmas pessoas. Não cumprimentamos estranhos, nem mesmo no elevador do nosso prédio. Afinal, não sabemos quem são eles! Ainda mais nos tempos atuais, onde nem sempre a aparência nos mostra o interior das pessoas! Por trás de uma gravata de seda, ou de um vestido elegante, pode existir uma pessoa pronta para nos enganar, nos roubar ou até mesmo – tragédia alimentada por programas sensacionalistas da TV – nos matar!

Também procuramos evitar as paixões! Se tivermos alguém, evitamos conhecer e – Deus me livre! – nos aproximarmos de outra pessoa, mesmo que sintamos aquela comichão da curiosidade, do desejo, da luxúria! Afinal, pra que reavivarmos o brilho nos olhos, aumentarmos o sorriso nos lábios, deixarmos batucar o coração? Isso é coisa de novela! Podemos nos satisfazer com os romances que vemos na telinha, geralmente na novela das nove, e continuar nossas vidinhas tranquilas, sem tropeços, nem horizontes longínquos.

O trabalho não agrada? Não faz com que fiquemos alertas, ou realizados quando dá tudo certo? Não deixa aquela sensação de realização depois de mais uma vitória? Não faz mal! Afinal, é de lá que virá o contracheque, no final do mês, que suprirá as necessidades básicas dos familiares. Prá que arriscar, procurar novos caminhos, chutar o balde, virar a mesa? Afinal, já não somos mais adolescentes! Temos uma família para cuidar, alimentar, educar.

Novos projetos? Sonhos? Fantasias? Coisas de crianças! Ou de adolescentes! Nós, os adultos, devemos ter os pés bem plantados no chão, viver nossas vidas dentro das regras da sociedade, sem grandes ousadias, sem grandes aventuras. Precisamos dar o exemplo para os mais jovens, para que sejam como somos hoje: adultos íntegros, cumpridores dos seus deveres, ciosos de suas responsabilidades e, mesmo que nem sempre: infelizes!  

Eu sempre procurei viver o avesso de tudo isso que acabo de escrever. Acordei quando não tinha mais sono, troquei de emprego diversas vezes, até encontrar um em que me identifiquei com o que fazia, com os colegas e com os superiores. Não me casei, não constitui família. Talvez por não ser um exemplo de cidadão adaptado e adequado. Mas vivi muito feliz! Viajei bastante, troquei de amores, vivi paixões tórridas ou sofridas, mudei de cidade, de estado, de casa, tantas vezes que acho difícil listar os lugares por onde andei. Conheci gente nova. Muita! Fiz amizades nos prédios onde vivi, nos elevadores que tomei, nas ruas por onde andei, nos bares que frequentei. Sonhei muito, fantasiei bastante. E sobrevivi! Amigos e, principalmente familiares perguntavam se não sentia falta de uma família (mulher e filhos) e eu dizia “não!”. Sempre convivi muito bem comigo mesmo e, embora viva só, nunca me senti um solitário. Pelo contrário: sempre cultivei a liberdade que me permitia viver da maneira que escolhi.

Hoje, já na idade considerada terceira, vejo minha liberdade tolhida, mas considero boa a causa. Meus pais, muito idosos e doentes, precisam da minha dedicação, dos meus cuidados. E eu dou a eles o que sinto que mais precisam. Isso não é eterno, sei muito bem! Um dia recupero minha liberdade, se é que não me despeça da vida antes. Mas tenho um consolo: vivi bem e sempre fui muito feliz! E mesmo hoje, com as limitações impostas, mantenho o sorriso nos lábios, o brilho nos olhos e não deixo de sonhar, de fantasiar, de desejar. Escolhi, para mim, a autossuficiência e a correspondente liberdade de viver. É assim que sou!






quinta-feira, 11 de outubro de 2012



ALGUMA COISA A RESPEITO DA GENEROSIDADE


“A verdadeira generosidade para com o futuro consiste em dar tudo ao presente.”





Muito se fala na tal generosidade, no ato de “dar o que tem sem olhar a quem”. Será que é mesmo por aí? Os políticos brasileiros, extremamente generosos (entre si), criaram até o tal de “é dando que se recebe”. É uma variação, oportunista, da famosa oração de São Francisco de Assis, que visa apenas os bens espirituais, mas nas mãos dos nossos políticos, virou objeto de troca de favores eleitoreiros ou políticos, sempre em benefício apenas dos envolvidos. Se, por acaso, esses benefícios respingarem em alguém fora do círculo, é pura sorte!

Mas não é sobre isso que quero falar agora. É sobre a generosidade pura, sem expectativas pessoais, apenas a vontade de dividir o que temos com quem necessite e, muitas vezes nem espere pelo gesto, pelo sentimento. Sim, pois a generosidade não é simplesmente material. É essencialmente espiritual. Não é um ato político, mas de desapego, de desprendimento, visando apenas o bem do próximo, não importa quem.

Não adianta limparmos nossos armários e distribuirmos nossos objetos usados e roupas velhas, que já não nos servem mais. Claro que essa distribuição poderá fazer bem a alguém, mas não é, necessariamente, um gesto de generosidade. Afinal, precisamos abrir espaço em nossos armários para novos objetos e novas peças de roupas. Não deixa de ser um gesto de caridade, que ajudará alguém para quem sirvam aquelas roupas. Mas a generosidade consiste em não nos apegarmos, avaros, àquilo que obtivemos e compartilharmos com nosso próximo. Podem ser bens materiais, mas também podem ser bens espirituais, como carinho, companheirismo, amor. Pode ser o tempo que usamos tratando de um doente, ensinando algo a alguém, fazendo uma tarefa que contribuirá para o bem estar de outro, sem qualquer tipo de compensação material.

Quando acontecem catástrofes como enchentes, deslizamentos de terra, terremotos e outros acidentes da natureza, muita gente se mobiliza reunindo rapidamente roupas, calçados, colchões, alimentos e os enviam para os desabrigados. Nesses casos, não se sabe para quem irão aqueles objetos, mas apenas que serão extremamente úteis, contribuindo para retomarem suas vidas, recomeçarem praticamente do zero. Esta forma desinteressada de doação, além de nos enriquecer espiritualmente, faz com que nos sintamos mais humanos e em maior sintonia com nossos próximos, no caso, os que tudo perderam. 

São tantas as formas de exercitarmos a generosidade!



Veja, por exemplo, a campanha anunciada no blogue da Luma:


Trata-se, simplesmente, de escolher um livro (que possa ser útil a alguém!) e “esquecê-lo” em algum lugar para ser encontrado por alguém. Você pode deixar dentro do livro, um bilhete explicando que o mesmo não foi esquecido por acaso, e sim deixado ali para ser compartilhado. Peça, no bilhete, para que a pessoa, após terminar a leitura, faça o mesmo, difundindo o hábito da leitura na tentativa de atingir pessoas que, muitas vezes não têm condições financeiras de adquirir um livro. E dessa forma estaremos exercitando o desapego.

Nesta postagem, referente à 3ª edição, a Luma explica direitinho do que se trata e como poderemos ajudar a difundir esta prática. Já aqui ela fornece todas as opções para participar desta 5ª edição que acontecerá entre os dias 08 e 16 de novembro.

Mas é minha opinião que não precisamos nos limitar a essas datas para praticar esse ato generoso de libertar um livro, compartilhando nosso conhecimento, difundindo o hábito da leitura e, muitas vezes, colocando o livro nas mãos de alguém que não poderia adquiri-lo de outra maneira. Podemos fazer desse “esquecimento” um hábito. Deixando o livro já lido em um banco de praça, ou de ônibus. Dentro de um carrinho de supermercado, ou sobre o balcão de uma loja. Em qualquer lugar, por mais inusitado que possa parecer, desde que possa ser encontrado por alguém. E você nem precisa ser blogueiro para isso! Basta ser generoso. Afinal, é tão simples ser generoso que, muitas vezes nem somos percebidos ou valorizados como tal! Mas não é em troca de reconhecimento que compartilhamos o que temos. É em benefício de alguém. E não importa quem.





Um gesto de generosidade nos faz sentir mais humanos.







quarta-feira, 3 de outubro de 2012




7 de outubro de 2012


Numa época em que todo dia é “dia de alguém ou de alguma coisa”, fui procurar quem ou o que se homenageia nesse dia. Encontrei informações conflitantes sobre o Dia do Compositor (7 de outubro, 15 de janeiro ou 5 de março, esta, a data do nascimento do nosso grande compositor Heitor Villa Lobos. Para os católicos é o Dia de Nossa Senhora do Rosário. Como informação complementar e “importantíssima” é o 280º dia do ano no calendário gregoriano (281º em anos bissextos). Faltam 85 para acabar o ano.

E para os brasileiros, em geral? Bem, só sei que 7 de outubro de 2012 ficará marcado como o dia das eleições para prefeitos e vereadores.

Neste ano, infelizmente, estarei impedido de exercer aquele que é um dos nossos mais legítimos direitos: o de eleger nossos representantes municipais! Como vim para São Paulo no início deste ano, meio às pressas devido às doenças dos meus pais já bastante idosos e, nos primeiros meses, às voltas com internações hospitalares e suas consequências, acabei nem me lembrando do título de eleitor e da necessidade de transferi-lo para cá, onde estou residindo por tempo indeterminado. E devido aos mesmos problemas, estou impedido de viajar para a cidade onde posso exercer plenamente esse direito de cidadão. Assim só me resta justificar o voto e pedir a Deus que o povo paulistano tenha discernimento e responsabilidade para eleger o melhor prefeito e os melhores vereadores.

Não que o meu voto fizesse, sozinho, alguma diferença! Mas ele faria com que me sentisse melhor tendo contribuído para esse evento e, estatisticamente, participado da escolha dos próximos dirigentes desta cidade tão rica em contrastes e em diferenças sociais. Tão necessitada de dirigentes que realmente façam seu trabalho em função das reais necessidades dos cidadãos e não apenas em função de acordos e conchavos políticos e muito menos em benefício próprio.

O que se vê por toda parte nestes meses que antecedem as eleições é a politicalha se movendo, como ratos saindo de suas tocas, no sentido de que o povo continue sendo manipulado para que eles não percam o lugar conquistado no poder, mas o consolidem, garantindo, assim, os interesses dos grupos que representam e os seus próprios. Não é a toa que se vê bispos indicando candidatos, políticos mais antigos apoiando seus pares, detentores de recursos e de poder determinando a manutenção do que temos por aí. Não vemos candidatos com verdadeiros programas de governo, destinados ao benefício comum. Vemos apenas arremedos disso, com maquiagem tão carregada quanto as usadas pelas atuais periguetes, peruas ou seja lá o nome que elas tenham.

O principal candidato a prefeito desta cidade, liderando as pesquisas há meses, é conhecido apenas pelo programa demagogo que comandou na televisão durante anos, onde levava uma pessoa do povo a uma loja ou prestador de serviços, para reparar o que estava errado. E o povo, inerme e permanentemente desinformado, escolheu-o como preferido apenas por considerá-lo “defensor dos pobres”! Não estou defendendo nenhum candidato, mas acredito que os que estão em 2º e 3º lugares tenham mais experiência e já tenham realizado mais em suas carreiras políticas do que esse cidadão que tem, como lastro, apenas um programa de televisão.

O ex-presidente da República, que deveria estar descansando em sua aposentadoria, tem se descuidado até da saúde debilitada para fazer com que o “seu escolhido” seja eleito, inclusive (não sei se usarei a palavra correta, ou a mais justa) chantageando politicamente sua sucessora na Presidência da República na tentativa de conseguir seus objetivos. A senhora PresidentA, inclusive, trocou uma ministra para dar um ministério a outra senhora, importante (mas não a melhor) política paulista, que em troca voltou atrás em sua decisão pública de não apoiar o candidato do ex-presidente, apoiando-o como se fosse sua eleitora de primeira hora!

Os outros candidatos, inclusive aqueles que jamais tiveram qualquer condição de atingir o cargo de Prefeito desta cidade, trocam acusações e insultos, mostram as falhas e os pontos fracos dos demais, embora sempre deixem uma brecha para, num eventual segundo turno, negociarem seu apoio a quem pagar melhor.

Infelizmente essa é a nossa política! Essa é a forma de se fazer política neste País! E isso só vai mudar quando os eleitores se conscientizarem de seus legítimos direitos e responsabilidades e passarem a exigir o que se espera dos representantes eleitos. Quando os eleitores, ao invés de se manterem alienados e desinformados, passarem a vasculhar as vidas dos candidatos, não para incriminá-los ou culpá-los de algo, mas para conhecer suas origens, suas histórias e, escorados num perfil digno, escolherem o melhor deles. Só que, para conseguir atingir esse nível de escolha, nosso povo, tão sofrigo, precisa receber melhores condições de saúde e de educação; trabalho e salário dignos e melhores condições de moradia e de locomoção.  

Os maiores problemas desta cidade concentram-se, não necessariamente nessa ordem, em: transporte público, trânsito, segurança, corrupção, saúde e educação. Havendo vontade política e empenho dos nossos representantes, não seria tão difícil resolver, em um, dois, três mandatos, cada um desses problemas. Mas as malditas coligações, conchavos, acordos, rabos presos e interesses de grupos ou pessoais impedem que, uma vez no poder, eles se empenhem em buscar essas soluções. O tempo para realmente governar, legislar e fazer com que se cumpram as leis acaba sendo pouco para o atendimento de todos os compromissos politiqueiros feitos antes das eleições.

Resta-me, já que não poderei utilizar o meu voto, ficar torcendo para que o futuro prefeito e os futuros vereadores façam por esta cidade algo melhor do que os atuais e seus antecessores fizeram! Que venham os melhores!